Sinto passar o vento,
em círculos, só observa...
portas e janelas estão abertas
mas ele não quer entrar
há uma Brisa aqui dentro
ela é mansa e afaga a alma inquieta
é luzeiro, farol de estrelas no céu
é raio, lampejo, clarão do crepúsculo...
às vezes ouço o balbuciar de um sopro na janela
parece um cântico, um assobiar
mas não consigo decifrar a letra
sopro quase mudo, nada diz...
tem rodopio tímido, vagaroso
não consegue subir escadas,
não embala a rede exposta na varanda...
_ ao menos seria um sinal; ventania dobrando a esquina
cheiro de poeira molhada, ventos de mudanças
ah! vento dengoso, manhoso...
és marcha lenta, transporte de inquietudes
um vai e vem de ameaças tempestivas
seria uma utopia de verão? ... não!
_ pois não quero o olhar turvo da expectativa debruçada na janela
nem a chuva fininha e morna lavando a cara da esperança
_ não tenho medo de ventania
o que eu quero mesmo é uma grande trovoada
Lene Soares