"Que apesar dos pesares conserva o bom-humor, caça nuvens nos ares, crê no bem e no amor."
Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 21 de março de 2013

Aquele sorriso


Creio que foi o sorriso...
não era um sorriso qualquer
era um convite sem trancas ou tramelas 
daqueles onde a alma se desnuda e só ouve docilidades
não era um sorriso banal de olhar sedento
não! era morno, solto, envolvente 
exalava um frescor confiante 
convite para adentrá-lo, navegá-lo 
lentamente...
...e de repente como quem adormece me fiz morada
naquele sorriso.
 Lene Soares

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

"Som"...


Teu olhar é preenchimento
tênue linha de vapor e
respiração descompassada
um som que embebeda e eterniza 
distância entre meus lábios e os teus
teu peito, faísca, fogo latente
inflamado junto à nascente
pouso para minhas mãos e boca
um luau e fogueira
alastramento na sombra
quentura e frescor...
nos teus quadris é que a fonte começa a ser rio afluente...
um rumor de cigana apaixonada ecoa cânticos doces                                             
é quase um culto, uma dança de ventres em comunhão...
o sol se molha e vira lua no teu sorriso
minhas curvas são reflexos que se banham dentro do teu olhar
iluminada está a pele da noite morena...
em tua boca me farto e bebo todos os meus desejos
... e tudo entre lábios o que for som será a nossa música.
Lene Soares

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Trovoada

Sinto passar o vento,
em círculos, só observa...
portas e janelas estão abertas
mas ele não quer entrar
há uma Brisa aqui dentro  
ela é mansa e afaga a alma inquieta
é luzeiro, farol de estrelas no céu 
é raio, lampejo, clarão do crepúsculo...
às vezes ouço o balbuciar de um sopro na janela
parece um cântico, um assobiar
mas não consigo decifrar a letra
sopro quase mudo, nada diz...
tem rodopio tímido, vagaroso 
não consegue subir escadas,
não embala a rede exposta na varanda...
_ ao menos seria um sinal; ventania dobrando a esquina
cheiro de poeira molhada, ventos de mudanças
ah! vento dengoso, manhoso...
és marcha lenta, transporte de inquietudes
um vai e vem de ameaças tempestivas
seria uma utopia de verão? ... não!
_ pois não quero o olhar turvo da expectativa debruçada na janela
nem a chuva fininha e morna lavando a cara da esperança
_ não tenho medo de ventania
o que eu quero mesmo é uma grande trovoada
Lene Soares

sábado, 3 de novembro de 2012

Intuição

 Flores caídas
argila modelada
caminhos inversos
diversos desertos
invernos longos
intuição 
cheiro de chuva
é verão
flores molhadas
desprendimento
delicadeza dos ventos    
caminho adiante
flores no chão
sim! 
sempre vivas
bem querer
amor
gratidão 
flores repartidas 
pétalas     
comunhão
força
vitória régia
leveza
margaridas
exalar
amor
transpirar
docilidades
Flores
perfume
visceral
Lene Soares

sábado, 26 de novembro de 2011

Vida


Eu não quero o morno
quero o choque do quente com o frio
não quero o marasmo 
quero a ressaca
não quero andar devagar
tenho pressa
não quero o beijo virtual
quero o toque da sua barba
não quero seguir caminhos
quero ir por aí
não quero filmes românticos
quero ação e aventura
não quero ouvir o pop
quero música
não quero ir na valsa
quero samba de gafieira
não quero aprender inglês
quero francês, italiano e japonês
não quero fórmulas
a vida é minha escola
não quero pratos, facas e garfos
quero a fome e a sede de viver
não quero religião
quero a poesia
não quero andar com santos e nem pagãos 
quero gente
não quero o suco hipócrita
quero o Vinho
não quero rezas e promessas
a Graça me basta, grata!
Lene Soares 

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Fome da tua sede


Vem sem medos
sem reservas
sem demoras
Deixa-me amar-te em teus cansaços
em tuas sedes
em tuas ânsias 
Vem e cobre a nueza dos meus sonhos 
Vem e cala meus prantos com o frenesi dos teus beijos
O amor é feito um reflexo azulzinho de luar
Há de se ver um tão raro refletido neste nosso mar 
Vem e levanta o sol adormecido do meu peito
Vem e faz brilhar a lua taciturna que fotografo da janela
Os meus olhos têm a fome da tua sede...
Talvez seja por isto que vejo sonhos desenhados à nanquim:
- um início, um mar, um porto, um barco, uma partida, 
  um cais, uma âncora, um futuro...
Mas não há estrelas pontilhadas no céu,
posto que tudo já é saudade, fome e sede.
Lene Soares

sábado, 17 de setembro de 2011

Flor do meu querer


Eu tenho um mar em mim,
e dentro deste mar há um
pequeno deserto, e no meio
do deserto há uma flor, e seu 
nome é querer...
Ah, serrana flor do meu querer...
Quanto mar eu tenho pra te dar!
Seu coração é selvagem e livre,
mas prende o meu...
Ah, minha flor morena ...
Quantos sóis e luas serão necessários
para juntar  meus caminhos nos teus?
Ah, minha flor de sonho que beijei...
És o elixir que cura um querer de
saudades não vividas...
Te quero! mas por quê te quero?
Te quero, porque vejo um pôr do sol carregado 
de possibilidades, e o mar está mais apaixonado!
Lene Soares

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Me falta um sol...


Na falta de sol
no céu cinzento
a chuva cai 
e molha o coração
Solidão
pedacinho de dor 
desejo de carinho
ansiando por colo
Um abraço tapa goteiras 
e aquece paredes 
Uma voz que canta mansinho
embala silêncios insuportáveis
Um sorriso faz adormecer o cinzento dos dias
E como uma lua acesa entrelaçada a estrelas,
alta, brilha e acorda vestida de sol e
beijada pelo azul do céu
Lene Soares     

sábado, 27 de agosto de 2011

Devaneios



Ah meu amor...
você é como um sol que aquece e ilumina minhas noites em claro
... e lua nos dias que enfrento total escuridão
és como chuva que molha a sequidão dos meus desejos
... o porto onde minha alma agitada deságua e descansa
Sou tão forte e tão frágil, meu amor!
No teu peito busco aconchego
... e como segunda pele visto o casaco dos teus abraços
teus beijos são torrentes de águas mornas que deslizam causando arrepios 
tua voz é música que acalma e ao mesmo tempo causa disritmia 
Você é a cor dos meus desejos mais secretos
é o choro e o riso na mais perfeita comunhão
é o sabor de frutas exóticas jamais experimentadas
é o cheiro do perfume que escorre misturado a minha pele
Dentro dos teus olhos meus olhos adormecem e minha alma brilha
minha boca fica toda iluminada e meu riso fala poemas
me sinto leve feito pétalas a voar quando falo em você
Queria ter lhe prendido nas cordas dos meus cabelos...
Adormeço em você, e quando acordo é o vazio do espaço que encontro
Com o coração ardendo em saudades sigo meu destino
... em desatino penteio minha coragem frente ao espelho
sorrio pro reflexo da esperança; que não teme incertezas de viver um grande amor!
Lene Soares

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Silêncio das noites...

As noites são imensas 
de um eterno inverno 
com montanhas mudas
Os ventos são cortantes 
não carregam volúpia alguma  
trazem lembranças em suas asas algozes 
As noites tornaram-se torturantes
lutam entre nuvens de esperanças 
para que a aurora se faça vencida
O canto de pássaros na janela 
trazem um ramalhete da plenitude de uma espera 
O cansaço do silêncio é vencido... 
Aquecido pelas notas musicais, 
se debruça nos ponteiros do relógio,
adormece e sonha dias melhores.
Lene Soares

terça-feira, 28 de junho de 2011

Fotografias têm cheiro...


Saltou do retrato da minha infância cheiros de lembranças que jamais quero apagar!
Minha memória tem cheiros que me puxam pra dentro das fragrâncias do tempo...
Fecho os olhos e identifico os que me marcaram: Amoras vermelhas colhidas no quintal espremidas num pano branco, têm cheiro de primos. Goiabas maduras no pé têm cheiro de tios fazendo doce em tacho de cobre. Maçã embrulhada em papel  de seda roxo tem cheiro de avô vindo de São Paulo nos visitar. Livros, cadernos e lancheira têm cheiro de cuidado de mãe. Passeios à cavalo, museus, desenhos à mão livre, histórias/estórias, curiosidades... têm cheiro de pai . Carne assada com batatas coradas têm cheiro de família reunida aos domingos. Piquenique, acampamento,  praia e cachoeira têm cheiro de gargalhadas soltas de irmãs. Beijo, abraço, aperto de mão... tem cheiro das brincadeiras inocentes com os meninos da rua.  Diários, segredos e risos... têm cheiro de amigas. O primeiro sutiã tem cheiro de expectativas, ansiedades e sonhos.  Os sonhos têm cheiro de  vida, namoro, beijos, brigadeiros e bolo de casamento. Casamento tem cheiro de felicidade; e felicidade tem cheiro de filho.  Filho tem cheiro de colo, de passarinho que cresce e aprende a voar carregando um pedaço de si.  Abro os olhos e guardo com carinho e nostalgia os cheiros das lembranças.  Meu coração tem o cheiro de um retrato!
Lene Soares

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Flor da saudade...


A saudade bate em minha porta
vagueia em meus pensamentos
a distância me faz refém
aprisiona meu sorriso
querendo leva-lo cativo
lágrimas são gotas de orvalho
sangrando em meu peito
Quero voltar a ser flor
que se abre no entardecer
dos teus abraços
Quero a ternura do teu sorriso 
acalentando minha alma
Quero a doçura do teu olhar  
trazendo o frescor  do novo dia
Saudade...
a porta está aberta, 
mas não impeça que eu seja flor!
Lene Soares

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Sonho real...

Foi sonho e foi realidade
Vestiu-me de amor e despiu-me em saudade
Desapareceu escurecendo sonhos 
Cega é a realidade que tateia lembranças...
Sentimentos apalpados não respondem ao toque de sonhos adormecidos
Tento esquecer sonho e realidade...
Mas na sombra dos meus olhos, ainda vejo clarões das luas de Maio
Bebo o doce e o amargo da agonia de te esquecer!
Lene Soares