"Que apesar dos pesares conserva o bom-humor, caça nuvens nos ares, crê no bem e no amor."
Carlos Drummond de Andrade

sábado, 26 de novembro de 2011

Vida


Eu não quero o morno
quero o choque do quente com o frio
não quero o marasmo 
quero a ressaca
não quero andar devagar
tenho pressa
não quero o beijo virtual
quero o toque da sua barba
não quero seguir caminhos
quero ir por aí
não quero filmes românticos
quero ação e aventura
não quero ouvir o pop
quero música
não quero ir na valsa
quero samba de gafieira
não quero aprender inglês
quero francês, italiano e japonês
não quero fórmulas
a vida é minha escola
não quero pratos, facas e garfos
quero a fome e a sede de viver
não quero religião
quero a poesia
não quero andar com santos e nem pagãos 
quero gente
não quero o suco hipócrita
quero o Vinho
não quero rezas e promessas
a Graça me basta, grata!
Lene Soares 

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Fome da tua sede


Vem sem medos
sem reservas
sem demoras
Deixa-me amar-te em teus cansaços
em tuas sedes
em tuas ânsias 
Vem e cobre a nueza dos meus sonhos 
Vem e cala meus prantos com o frenesi dos teus beijos
O amor é feito um reflexo azulzinho de luar
Há de se ver um tão raro refletido neste nosso mar 
Vem e levanta o sol adormecido do meu peito
Vem e faz brilhar a lua taciturna que fotografo da janela
Os meus olhos têm a fome da tua sede...
Talvez seja por isto que vejo sonhos desenhados à nanquim:
- um início, um mar, um porto, um barco, uma partida, 
  um cais, uma âncora, um futuro...
Mas não há estrelas pontilhadas no céu,
posto que tudo já é saudade, fome e sede.
Lene Soares

sábado, 17 de setembro de 2011

Flor do meu querer


Eu tenho um mar em mim,
e dentro deste mar há um
pequeno deserto, e no meio
do deserto há uma flor, e seu 
nome é querer...
Ah, serrana flor do meu querer...
Quanto mar eu tenho pra te dar!
Seu coração é selvagem e livre,
mas prende o meu...
Ah, minha flor morena ...
Quantos sóis e luas serão necessários
para juntar  meus caminhos nos teus?
Ah, minha flor de sonho que beijei...
És o elixir que cura um querer de
saudades não vividas...
Te quero! mas por quê te quero?
Te quero, porque vejo um pôr do sol carregado 
de possibilidades, e o mar está mais apaixonado!
Lene Soares

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Me falta um sol...


Na falta de sol
no céu cinzento
a chuva cai 
e molha o coração
Solidão
pedacinho de dor 
desejo de carinho
ansiando por colo
Um abraço tapa goteiras 
e aquece paredes 
Uma voz que canta mansinho
embala silêncios insuportáveis
Um sorriso faz adormecer o cinzento dos dias
E como uma lua acesa entrelaçada a estrelas,
alta, brilha e acorda vestida de sol e
beijada pelo azul do céu
Lene Soares     

sábado, 27 de agosto de 2011

Devaneios



Ah meu amor...
você é como um sol que aquece e ilumina minhas noites em claro
... e lua nos dias que enfrento total escuridão
és como chuva que molha a sequidão dos meus desejos
... o porto onde minha alma agitada deságua e descansa
Sou tão forte e tão frágil, meu amor!
No teu peito busco aconchego
... e como segunda pele visto o casaco dos teus abraços
teus beijos são torrentes de águas mornas que deslizam causando arrepios 
tua voz é música que acalma e ao mesmo tempo causa disritmia 
Você é a cor dos meus desejos mais secretos
é o choro e o riso na mais perfeita comunhão
é o sabor de frutas exóticas jamais experimentadas
é o cheiro do perfume que escorre misturado a minha pele
Dentro dos teus olhos meus olhos adormecem e minha alma brilha
minha boca fica toda iluminada e meu riso fala poemas
me sinto leve feito pétalas a voar quando falo em você
Queria ter lhe prendido nas cordas dos meus cabelos...
Adormeço em você, e quando acordo é o vazio do espaço que encontro
Com o coração ardendo em saudades sigo meu destino
... em desatino penteio minha coragem frente ao espelho
sorrio pro reflexo da esperança; que não teme incertezas de viver um grande amor!
Lene Soares

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Silêncio das noites...

As noites são imensas 
de um eterno inverno 
com montanhas mudas
Os ventos são cortantes 
não carregam volúpia alguma  
trazem lembranças em suas asas algozes 
As noites tornaram-se torturantes
lutam entre nuvens de esperanças 
para que a aurora se faça vencida
O canto de pássaros na janela 
trazem um ramalhete da plenitude de uma espera 
O cansaço do silêncio é vencido... 
Aquecido pelas notas musicais, 
se debruça nos ponteiros do relógio,
adormece e sonha dias melhores.
Lene Soares

terça-feira, 28 de junho de 2011

Fotografias têm cheiro...


Saltou do retrato da minha infância cheiros de lembranças que jamais quero apagar!
Minha memória tem cheiros que me puxam pra dentro das fragrâncias do tempo...
Fecho os olhos e identifico os que me marcaram: Amoras vermelhas colhidas no quintal espremidas num pano branco, têm cheiro de primos. Goiabas maduras no pé têm cheiro de tios fazendo doce em tacho de cobre. Maçã embrulhada em papel  de seda roxo tem cheiro de avô vindo de São Paulo nos visitar. Livros, cadernos e lancheira têm cheiro de cuidado de mãe. Passeios à cavalo, museus, desenhos à mão livre, histórias/estórias, curiosidades... têm cheiro de pai . Carne assada com batatas coradas têm cheiro de família reunida aos domingos. Piquenique, acampamento,  praia e cachoeira têm cheiro de gargalhadas soltas de irmãs. Beijo, abraço, aperto de mão... tem cheiro das brincadeiras inocentes com os meninos da rua.  Diários, segredos e risos... têm cheiro de amigas. O primeiro sutiã tem cheiro de expectativas, ansiedades e sonhos.  Os sonhos têm cheiro de  vida, namoro, beijos, brigadeiros e bolo de casamento. Casamento tem cheiro de felicidade; e felicidade tem cheiro de filho.  Filho tem cheiro de colo, de passarinho que cresce e aprende a voar carregando um pedaço de si.  Abro os olhos e guardo com carinho e nostalgia os cheiros das lembranças.  Meu coração tem o cheiro de um retrato!
Lene Soares

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Flor da saudade...


A saudade bate em minha porta
vagueia em meus pensamentos
a distância me faz refém
aprisiona meu sorriso
querendo leva-lo cativo
lágrimas são gotas de orvalho
sangrando em meu peito
Quero voltar a ser flor
que se abre no entardecer
dos teus abraços
Quero a ternura do teu sorriso 
acalentando minha alma
Quero a doçura do teu olhar  
trazendo o frescor  do novo dia
Saudade...
a porta está aberta, 
mas não impeça que eu seja flor!
Lene Soares

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Sonho real...

Foi sonho e foi realidade
Vestiu-me de amor e despiu-me em saudade
Desapareceu escurecendo sonhos 
Cega é a realidade que tateia lembranças...
Sentimentos apalpados não respondem ao toque de sonhos adormecidos
Tento esquecer sonho e realidade...
Mas na sombra dos meus olhos, ainda vejo clarões das luas de Maio
Bebo o doce e o amargo da agonia de te esquecer!
Lene Soares

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Saudade...






E de repente o silêncio.
É um silêncio profundo de ausência

que atravessa a noite em versos
Busco teu gosto de mar
 numa vontade nua...
Arde o peito em brasas, saudade!
Será que pensa em mim?
Lembranças de beijos de mar em lua 
Hoje a noite canta triste, nua, e cinza
Sabor do sal imita o mar na lágrima que o vento traz...
Saudade adormece em meu peito... 
sonhando com a música da tua voz. 
Lene Soares

sábado, 28 de maio de 2011

A Espera...

Mel era o gosto dos teus beijos
favos teus abraços
Zangão e Rainha
em versos encantados
Letra e Poesia
uma só paisagem estampada na tela
sombras vivas em pintura íntima
traços abstratos pintam o retrado da espera
  ponteiros do destino se apressam
até que o amanhã seja agora
...ou nunca!
Lene Soares

terça-feira, 24 de maio de 2011

Choveu

A música me acalma em meio as tempestades... 
me faz chuva mansa no telhado, leve, molha e 
lava meu quintal. Me atravessa em espaços de 
estrelas tristes escondidas, varre folhas secas e cacos. 
Abre minhas janelas, e deixa o sol entrar. 
Lene Soares

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Encontro de poemas

Juntos formaram uma bela poesia
Ali exprimidos no curto espaço de tempo
Encarando selva de pedras, corajosos e destemidos
Enganavam as horas sem muitas palavras, apenas sentimentos
Atravessaram a cidade em meio às sombras das montanhas
Montanhas de pedras, que se perdiam quase no além dos olhos
O silêncio era um barulho pontuado de gente, de carros e buzinas
No peito carregavam uma quietude inflamada de desejos
Gestos de carinhos concentrados em lembranças de páginas carmim
donde escorriam poemas em êxtases
E ali, nos corredores da selva, bem na curva, leves como a pluma
Em sintonia, sorriram feito vôo de pássaros livres
E pousaram 
E pausaram
E tudo se transformou em mistério e medo
Medo de ir e ficar perpetuamente em torno de si...
Ficaram as lembranças de beijos úmidos, abraçados a poemas em êxtases...
Num jeito bom de acolher, de ninar, e de guardar eternamente na memória.
Lene Soares

segunda-feira, 28 de março de 2011

Som do Vento





Sim! Eu conheço o som 
do vento que me acompanha
Reconheço-o principalmente 
nos silêncios das noites mal dormidas
Como um Prélude de Bach
ecoa em meus pensamentos 
Acalma meus sonhos
lava minha alma 
Sinto-me leve outra vez 
Como areia lavada pelo beijo 
de espumas brancas do mar
Sinto minha face beijada pelo som do vento. 

Lene Soares

Teus olhos


Teus olhos fixos em mim
transparentes, apesar de negros
Vejo vidas...
A minha
A sua
A nossa...
Memórias expostas
de um passado presente,
e de um futuro distante...
Desejos engolidos pelo tempo
lutando, tentando quebrar 
a névoa das amarras... 
Gritos sufocados seguram 
minhas mãos e segredam palavras... 
Me vejo no profundo deste olhar
Sensações envolvem e despertam o amor que há mim...
É a primeira vez que vejo olhares que se beijam, 
e ardem entrelaçados num só...
Na transparência dos teus olhos
vejo minha resposta... 
Sim amor, quero teus olhos fixos... eternos em mim! 

Lene Soares

Devolva-me!



Ando procurando me encontrar
Por onde andei? Pois, em algum momento me perdi...
Onde andas pedaço de mim?
Se tu souberes, devolva-me agora!
Não me escondas em silêncio e clausura
Silencias teus quereres
Os meus não!
Onde anda minhas pressas, sonhos e festas?
Como saber onde estás

Se nesta espera do encontro
Nada se encontra faltando um pedaço de mim.
Lene Soares

quarta-feira, 9 de março de 2011

Senhora Poesia


Vivo porque a poesia vive em mim
E seus versos me abraçam logo pela manhã
Tudo ao meu redor transpira poesia
Reflexos do dia entram alegres pela janela do meu quarto
E beijam minha face com doçura
Depois, correm pela casa como crianças em dias festivos
Tudo fica iluminado
- passarinhos gorjeiam em um coro afinado, alegre
- enquanto que borboletas dançam ao som do jazz de cada dia
- todos dançam, na verdade!
A cantoria nunca cessa 
Apenas ao anoitecer, adormecemos todos embalados pelo blues
- um poético amigo do jazz, que já faz parte da família
A poesia é senhora dos meus dias
E seus versos, hão sempre de gotejar em mim
Feito chuva fresca em terra árida, formando desenhos  
iguais aos acordes de uma linda canção.
Lene Soares

domingo, 6 de fevereiro de 2011

O lamento

Já não te vejo bem... Você existe?
Dizem que existe, aí, em algum lugar...
Será que devo alimentar mais um sonho que um outro se desfez?!
Vultos? Ventos? Pôr do sol? Mar? Estrelas? 
Será que vem? Será que vejo? Será que sinto?
-Não sei se me vês assim também, amor... Agarrada à uma tal esperança...
-Cego está quem? Eu ou você?
Será um fantasma de amor que vive assombrando este pobre coração?
Estarei condenada à solidão?
-Não sei, amor! 
Tem dias que és tudo que mais quero... 
Em outros, tão cansada, és um simples nada! Chego a odiá-lo!
És o vulto da esperança que passa nos dias que já são breves e beija a minha boca...
Mas há dias que adormeces em meu peito como pedra, e, me amarga a boca como fel... 
Em outros, estás tão vivo que me arde em tudo como brasas...e a boca quase que escorre em mel...
És aquele que vive e que morre em mim sem nenhuma piedade...
Sou a mulher e a viúva daquele que nem sequer conheceu
Hoje é daqueles dias que me aperta o peito como pedra...
Ai meu Deus! Que tormento este meu lamento...
Lene Soares

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Memórias

Na minha memória, e no meu coração tão cheio de sustos e marés
você ocupa o lugar mais bonito.Todas às manhãs, teu perfume me traz um gosto de vida pelas veredas deste meu jardim. E de repente, no caminho, entre alguma curva do crepúsculo, eu possa me encontrar. E assim, te reencontre... por caminhos enveredados de pétalas que se aninham em um leito de puro orvalho de amor.
Lene Soares